quinta-feira, 7 de julho de 2011

O jovem e a fé

J. B. Libanio
Jornal de Opinião – fevereiro 2011  
                   Situação bem paradoxal. Os jovens sentem dificuldade em face das instituições. As Igrejas, enquanto tais, com normas, regras, doutrinas, prescrições, moral vinculante não os atraem. Pelo contrário eles se posicionam criticamente diante delas como tendência geral. No entanto, há grupos aguerridos que as defendem com unhas e dentes. Primeiro paradoxo.
                   Ao lado da repulsa à religião, como organização, alastra-se, porém, entre eles a busca de experiências religiosas diversificadas, estranhas, exóticas, não raro conjugadas com alucinógenos. Pouca religião e muita religiosidade. Que significa isso? E que diz a fé sobre os dois paradoxos?
                   Eles respondem bem à pós-modernidade. Ela anuncia o fim das grandes narrativas. Os projetos maiores, que orientaram toda a vida da sociedade, como foi a religião cristã durante séculos no Ocidente e o socialismo nos países do Leste por décadas, estão a perder força junto à nova geração, marcada pela midiática.
                   Em seu lugar, entram as pequenas narrativas que se difundem por meio de experiências grupais, entre elas as religiosas. Estas crescem e se veem povoadas por freqüentadores da classe juvenil. As pequenas narrativas permitem maior rotatividade. Ora os jovens se alimentam de uma, ora de outra. Como alguém comentou ironicamente: elas se assemelham a ônibus circular, sempre cheio, mas não com as mesmas pessoas. Umas descem, outras sobem.
                   A fé situa-se respeito a esse fenômeno de decréscimo da religião e de ascensão da religiosidade de maneira crítica. Ela interpreta a ambas as realidades a partir, em última análise, da pessoa de Jesus. Ele deslocou para a práxis da caridade, especialmente em relação aos pobres, o sentido maior da relação com Deus.
                   Tanto a religião com a complexa estrutura de organizar a vida quanto a religiosidade com a capacidade insinuante de penetrar a subjetividade caem sob o juízo da fé. Ela testa as duas a partir do duplo sermão de Jesus: escatológico (Mt 25, 31-40) e da Montanha (Mt 5, 3-11). Até onde a religião e a religiosidade ajudaram os fieis a saciarem os famintos e os sedentos, a acolherem os forasteiros, a vestirem os nus, a visitarem os doentes e encarcerados? A fé interpela o cristão nessa direção porque ela reconhece em todos eles a pessoa de Jesus.
                   Até onde a religião e a religiosidade forjaram as pessoas simples, pobres de espírito, que não se preocupam com o amanhã, famintas e sedentas de justiça, misericordiosas, puras de coração, construtoras da paz, que suportam a perseguição pelo Reino de Deus? A fé proclama o sermão da montanha como portal de ingresso. Não se entra nela sem escutar e praticar tal pregação de Jesus.
                   Não raro acontece que os jovens se identificam com esses dois clássicos sermões de Jesus. Então absorveram o melhor da fé cristã, mesmo que sintam dificuldades em face de elementos da religião cristã e vivam religiosidade peregrina. A pedra de toque da fé chama-se serviço ao irmão, encontrar a Deus neles e especialmente naqueles que a sociedade exclui.

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