quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Natal: Jesus ou Papai Noel?



Por ser festa de origem cristã, para celebrar o nascimento de Jesus, a sociedade laica e religiosamente plural a descaracteriza pela introdução da figura consumista de Papai Noel

Aproxima-se o Natal. Curioso como, numa sociedade tão laicizada como a nossa, na qual predomina a tendência de escantear a religião para a esfera privada, uma festa religiosa ainda possa constituir um marco no calendário dos países do Ocidente.

Há nisso uma questão de fundo: o ser humano é, por natureza, lúdico e sociável, o que o induz a ritualizar seus mais atávicos gestos, como alimentar-se ou se relacionar sexualmente. Além de elaborar, condimentar e enfeitar sua comida, o que nenhum outro animal faz, o ser humano exige mesa e protocolo, como talheres e a sequência prato forte e sobremesa.

No sexo, não se restringe ao acasalamento associado à procriação. Faz dele expressão de amor e o reveste de erotismo e liturgia, embora o pratique também como degradação (prostituição, pornografia e pedofilia) e violência (jogo de poder entre parceiros).

O Carnaval, como o Natal, era originariamente uma festa religiosa. Nos três dias que antecedem a Quaresma, período de jejum e abstinência recomendados pela Igreja, os cristãos se fartavam de carnes – daí o termo Carnaval, festival da carne. Resume-se, hoje, a uma festa meramente profana, onde a carne predomina em outro sentido...

Essa transmutação ocorre também com o Natal. Por ser festa de origem cristã, para celebrar o nascimento de Jesus, a sociedade laica e religiosamente plural a descaracteriza pela introdução da figura consumista de Papai Noel. O que deveria ser memória da presença de Deus na história humana, passa a ser mero período de miniférias centrada em muita comilança e troca compulsiva e compulsória de presentes.

Daí o desconforto que todo Natal nos traz. Como se o nosso inconsciente denunciasse o blefe. Sonegamos a espiritualidade e realçamos o consumismo. Ótimo para o mercado. Mas o será também para as crianças que crescem sem referências espirituais e valores subjetivos, sem ritos de passagem e senso de celebração?

Longe de mim pretender restaurar a religiosidade repressiva do passado. Mas se há algo tão inerente à condição humana, como a manutenção (comer) e a procriação (sexo) da vida, é a espiritualidade. Ela existe há cerca de um milhão de anos, desde que o símio deu o salto para o homo sapiens. As religiões são recentes, surgiram há menos de dez mil anos.

Se a espiritualidade não é fomentada na linha da interiorização subjetiva e da expressão de conexão com o Transcendente, ela corre o sério risco de, apropriada e redirecionada pelo sistema, cair na idolatria de bens materiais (patrimônio) e de bens simbólicos (prestígio, poder, estética pessoal etc). Talvez isso explique por que a maioria dos shopping centers tem linhas arquitetônicas similares a catedrais pós-modernas...

Já não são princípios religiosos que norteiam a nossa vida. Desestimulados ao altruísmo e à solidariedade, centramos a existência no próprio umbigo – o que certamente explica, na expressão de Freud, “o mal-estar da civilização”, hoje acrescido desse vazio interior que gera tanta angústia, ansiedade e depressão.

Com certeza o Natal é ocasião propícia para, como propôs Jesus a Nicodemos, nascer de novo...

Frei Betto é escritor, autor de “Um homem chamado Jesus” (Rocco), entre outros livros.www.freibetto.org twitter: @freibetto

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Curso de Verão 2011- Cesep está com inscrições abertas!

                 O Centro Ecumênico de Serviço à Evangelização e Educação Popular (Cesep) realizará entre os dias 9 a 16 de janeiro, o curso de verão "A vida: Desafio à ciência, bíblia e bioética do genoma às células tronco". O curso acontecerá na Pontifícia Universidade Católica (PUC), em São Paulo
                  Em 2011, o XXIV Curso de Verão volta-se para a atual revolução no campo da biologia e da genética humana, mapeando os avanços da ciência, no sequestramento do genoma humano, nas promessas de terapias genéticas, nas técnicas de clonagem de plantas e animais, no combate biológico a pragas e doenças. 
                  Volta-se também para os relatos bíblicos da criação, no diálogo com os novos dados da ciência e as antigas e renovadas perguntas sobre o sentido da vida cósmica e humana, da existência pessoal e coletiva, em sintonia com a Campanha da Fraternidade 2011, sobre a vida no planeta.


         Conteúdo / Assessoras/es 


  • Lygia da Veiga Pereira à A revolução científica na biologia e genética. O projeto genoma e as células tronco embrionárias - uma nova fronteira na pesquisa genética: seus dilemas científicos, éticos e jurídicos.
  • Carlos Mesters à Deus da vida e da história.
  • Márcio Fabri dos Anjos à Bioética - Fundamentos e questões específicas sobre pesquisas envolvendo seres humanos.
  • José Adalberto Vanzella à CF 2011: Fraternidade e a vida no planeta: A criação geme em dores de parto.



                  As inscrições podem ser feitas través do site: www.cesep.org.br.


sábado, 4 de dezembro de 2010

A águia e a galinha

                Era uma vez um camponês que foi à floresta vizinha apanhar um pássaro para mantê-lo cativo em sua casa. Conseguiu pegar um filhote de águia. Colocou-o no galinheiro junto com as galinhas. Comia milho e ração própria para galinhas. Embora a águia fosse o rei/rainha de todos os pássaros.
                Depois de cinco anos, este homem recebeu em sua casa a visita de um naturalista. Enquanto passeavam pelo jardim, disse o naturalista:
              – Esse pássaro aí não é galinha. É uma águia.
                – De fato – disse o camponês. É águia. Mas eu a criei como galinha. Ela não é mais uma águia. Transformou-se em galinha como as outras, apesar das asas de quase três metros de extensão.
                – Não – retrucou o naturalista. Ela é e será sempre uma águia. Pois tem um coração de águia. Este coração a fará um dia voar às alturas.
                – Não, não – insistiu o camponês. Ela virou galinha e jamais voará como águia.
                Então decidiram fazer uma prova. O naturalista tomou a águia, ergueu-a bem alto e desafiando-a disse:
                – Já que você de fato é uma águia, já que você pertence ao céu e não à terra, então abra suas asas e voe!
                A águia pousou sobre o braço estendido do naturalista. Olhava distraidamente
ao redor. Viu as galinhas lá embaixo, ciscando grãos. E pulou para junto delas.
                O camponês comentou:                                                                           
                – Eu lhe disse, ela virou uma simples galinha!
                – Não – tornou a insistir o naturalista. Ela é uma águia. E uma águia será sempre uma águia. Vamos experimentar novamente amanhã.
                No dia seguinte, o naturalista subiu com a águia no teto da casa. Sussurrou-lhe:
                -Águia, já que você é uma águia, abra suas asas e voe!
                Mas quando a águia viu lá embaixo as galinhas, ciscando o chão, pulou e foi para junto delas.
                O camponês sorriu e voltou à carga:
                – Eu lhe havia dito, ela virou galinha!
                – Não – respondeu firmemente o naturalista. Ela é águia, possuirá sempre um coração de águia. Vamos experimentar ainda uma última vez.
                Amanhã a farei voar. No dia seguinte, o naturalista e o camponês levantaram bem cedo. 
                Pegaram a águia,levaram-na para fora da cidade, longe das casas dos homens, no alto deu ma montanha. O sol nascente dourava os picos das montanhas.
                O naturalista ergueu a águia para o alto e ordenou-lhe:
                – Águia, já que você é uma águia, já que você pertence ao céu e não à terra,
abra suas asas e voe !
                A águia olhou ao redor. Tremia como se experimentasse nova vida. Mas não voou. Então o naturalista segurou-a firmemente, bem na direção do sol, para que seus olhos pudessem encher-se da claridade solar e da vastidão do horizonte.
                Nesse momento, ela abriu suas potentes asas, grasnou com o típico kau-kau das águias e ergueu-se, soberana, sobre si mesma. E começou a voar, a voar para o alto, a voar cada vez para mais alto. Voou... voou até confundir-se com o azul do firmamento... "
                 
                Reflexão: Na nossa vida passaram, ou vão passar muitas pessoas que vão querer nos fazer pensar como galinhas, nos desencorajando e nos fazendo acreditar que somos incapazes, mas nunca se esqueça: cada um de nós carrega uma águia dentro de si e não vão ser essas pessoas que nos farão desistir. Por isso companheiroos, FORÇA E NUNCA DESISTAM.

Paz e Bem!